Este é um dos livros essenciais tanto para o arquiteto quanto para o estudante de arquitetura, pois funciona literalmente como um manual do arquiteto, sendo que esta nova edição (atualizada em 2020) é uma obra clássica da bioarquitetura. O conceito praticado pelo autor Johan van Lengen já conquistou milhares de adeptos no século XXI.
O livro já foi traduzido para vários idiomas, e vendeu mais de 350 mil exemplares em todo o mundo, se tornando assim um best-seller mundial. O livro é repleto de ilustrações do próprio autor, certamente respondendo aos desafios atuais da questão habitacional e apresentando alternativas que combinam técnicas tradicionais e modernas de construção. O título faz referência aos primeiros arquitetos, que na Antiguidade amassavam a terra com os pés, para preparar os tijolos.
O autor é o arquiteto Johan van Lengen, que é Ex-professor da Unicamp, pesquisador, especialista em sustentabilidade, fundador do Instituto de Tecnologia Intuitiva e Bioarquitetura.
O conteúdo do livro é dividido em 10 capítulos, como será abordado a seguir:
Índice
COMO USAR O MANUAL DO ARQUITETO
Este livro indica maneiras de se fazer uma casa, fala um pouco de tudo, possibilitando um diálogo entre o proprietário e o responsável técnico, pois como o autor menciona, ele não trás receitas fixas, mas diversos conceitos e exemplos, que se consultados, facilitaram o entendimento e o que podem ser aplicados na obra. Assim, este livro é uma excelente fonte de consulta para diversos conceitos essenciais de uma obra.

PROJETO
No Manual do Arquiteto aborda-se sobre o desenho, forma da casa, os espaços, como projetar, maquetes, tamanhos, ambientes, iluminação, situar casas, edifícios, assentamento, clima, espaços urbanos, circulação e meio ambiente.
Decerto o desenho é a melhor forma para explicarmos nossas ideias, e o autor fala de três maneiras para representar a forma de uma edificação através dos desenhos: a Planta (Vista quando se “destampa” a casa), o Corte (Vista que aparece ao se cortar a casa na vertical) e a Fachada (Vista da casa olhada de frente ou de lado). Existem outros desenhos como a planta de localização e situação, que demonstram outras informações do entorno.
Para projetar é necessário verificar os espaços necessários e como organiza-los, ou seja, depende do tipo de vida dos usuários. A localização da edificação no terreno dependem de alguns fatores, como a o acesso à rua e da posição do sol, logo o clima local definirá grande parte das escolhas de projeto, pois a casa deve servir para proteção das condições climáticas, como chuva, calor, frio ou umidade.
Os três tipos básicos de clima são:
- O clima torpical úmido (que é quente mas chuvoso, com muita vegetação e pouca diferença de temperatura entre o dia e a noite);
- O clima tropical seco (que é quente mas com pouca chuva, vegetação escassa e fortes mudanças de temperatura entre o dia e a noite);
- O clima temperado ( em que há épocas de muito frio durante o ano, principalmente à noite).
Para cada um dos climas citados, o autor descreve estratégias especificas de projeto e construção, enfatizando o conforto ambiental do ambiente construido. Além de abordar sobre iluminação natural, através do tamanho das janelas, a forma do cômodo, a orientação da casa, dentre outros fatores.
TRÓPICO ÚMIDO
O capítulo aborda sobre a forma da casa, tetos, estruturas, pragas, portas e janelas, ventilação, umidade, caminhos e pontes.
A forma da construção é determinada por vários fatores, como por exemplo: a disponibilidade dos materiais, o tipo de mão-de-obra, os costumes e tradições locais, a possibilidade de usar materiais de outras regiões, a situação financeira da comunidade e muitas outras razões.
O autor trás exemplos práticos, como os tetos das moradias que devem ser mais inclinados para que a chuva escorra mais rápido e para que o sol não esquente muito os materiais do teto. Os beirais devem ser salientes, ventilação no telhado através de aberturas estratégicas. O capítulo trás também orientações sobre a aplicabilidade de diversos materiais adequados para este tipo de clima, além de diversas técnicas construtivas adequadas.
TRÓPICO SECO
Este capítulo fala sobre a forma da casa, ventilação, tetos e janelas.
A forma da casa pode tornar mais amena e a temperaturada casa, num clima seco. A terra pode ser utilizada como isolante, pode-se utilizar o teto e outros artifícios para captar a brisa, fazer torres de vento, a ventilação pode ser também através do subsolo, os tetos podem ser de solocimento, lajotas, abóbodas curva, abóbodas rebaixadas, abóbodas volteadas, cúpulas e abóbodas cruzadas.
As janelas no trópico seco também devem ser planejadas, pois atuam diretamente na ventilação, para isto o livro aborda janelas com cântaros, além de captadores com água e estratégias que refrescam o ar, como por exemplo: pátio pequeno ou estreito com sombra, corredor no patio, que aumenta a área de sombra, cores claras que não absorvam calor, janelas pequenas, plantas ou árvores, canos no subsolo, tanque ou jarras com água e torres de vento.
ZONA TEMPERADA
O autor aborda neste capítulo sobre o clima, produção de calor, estufas e aquecedores.
Nas zonas frias é necessário esquentar as casas, por isto, é importante não deixar entrar o frio que vem de fora e não deixar sair o calor da casa. Por isto, o autor trás estratégias como: orientação dos quartos, calor do piso, o calor do subsolo, calor do lixo, calor da lareira, calor do teto, paredes solares, janela aquecedora, o piso aquecedor, quarto com chão de chaminé, uma lareira, lareira de barro, lareira de barril e preservar o calor.

MATERIAIS
A escolha dos materiais, tais como, terra, ferrocimento, areia, cal, madeira, cactos, bambu, sisal, marcreto, são abordados neste capítulo.
O autor enfatiza a importância de se pensar em vários aspectos antes da escolha dos materiais, por exemplo:
- Como é a manutenção?
- Como ele responde as variações de temperatura?
- Há disponibilidade em abundância na região?
- Há mão de obra para trabalhar com o material escolhido?
- O material ´adequado ao clima local?
- Como combinar materiais?
- Dentre outros questinamentos.
Ademais, é necessário fazer teses, alguns conhecidos como ensaios, para verificar as principais características e resistências. O autor abora ainda de forma detalhada o processo de fabricação de vários materiais sustentáveis com construção em terra, como o adobe, solocimento, por exemplo.
OBRAS
É necessário preparar a obra, aplicar os materiais, fundações, paredes, painéis, pisos, telhados, portas e janelas, serviços, obras especiais, ferramentas, ecotécnicas.
“Construir é parecido com viajar. Conhecemos o destino e o caminho, mas nunca se sabe se haverá algum problema ao longo do percurso. A obra pode custar mais caro que o previsto nos cálculos, pode demorar mais tempo do que o planejado, podemos mudar os materiais ou então, quando construímos nossa própria casa, com materiais naturais da região, o mau tempo pode atrasar o trabalho.”
Lengen, J. V. (2020)
Para a construção há três elementos básicos: uma boa fundação, uma boa estrutura e um teto que proteja contra intempéres.
Em toda a obra é necessário planejamento, definição da mão-de-obra e a divisão do trabalho, que se dá, de forma resumida, da seguinte forma:
- Preparação do terreno;
- Fundações;
- Estrutura;
- Teto;
- Paredes;
- Instalações;
- Portas e Janelas; e
- Acabamento.
Para cada etapa da obra citada acima, é necessário a aplicação de diversas técnicas que o autor descreve de forma direta, clara e ilustrativa, desse modo, facilitando a compreensão do processo.
ENERGIA
Neste capítulo, o autos fala sobre: calor e movimento, moinhos, calor solar e fogões.
Demonstra também alternativas interessantes como o monjolo, moinhos de vento, minho-barril cruzado, moinho d’água para gerar eletricidade, aquecedores de água, o aquecedor, coletores integrados, teto coletor, aquecedor solar de tanque chato, aquecedor tipo termossifão, aquecedor de mangueira, fala também como encontrar água, secador solar, dentre outros.

ÁGUA
O capítulo aborda sobre a localização, bombas, transporte de água, cisternas, filtros, purificação e irrigação.
Sobre a água e sua fonte, a fonte de água potável ou hidrante público deve:
- Ficar próximo do local de abastecimento;
- Ser acessível aos usuários;
- Ser próximo a terrenos disponíveis para futuras construções;
- Evitar o desperdício de água;
- Estar em área pavimentada.
Ademais, trás também orientações de como fazer a purificação de água do rio, proteção de uma nascente, poços estreitos, detalhes de construção, bomba de batimento, dentre ouras técnicas, inclusive feitas com bambu.
É feito uma abordagem sobre como fazer o tratamento de água, filtro biológico, tanque filtro, como purificar água, destilador solar, e assim por diante.
SANEAMENTO
O saneamento é essencial para uma obra, desse modo, o autor aborda sobre sanitários, bason, coban, biodigestores e drenagem.
No sanitários, vale ressaltar que há dois tipos: os que usam água para eliminar os dejetos e o seco, e para a escolha é necessário considerar: a quantidade de água disponível, s os desejos serão utilizados para adubar uma área cultivada e o meio ambiente, pois o sanitário seco não contamina os subsolos nem a água.
É exemplificado também a construção de latrina, construção da fossa, poço de absorção, sanitários secos, e sobre biodigestores.
MAPAS E TABELAS
Em suma, em seu último capítulo, é demonstrado mapas e tabelas com materiais e calor, medidas, misturas, climas e zonas, ângulos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O MANUAL DO ARQUITETO
Por fim, o Manual do Arquiteto é uma excelente literatura para todo estudante e profissional da arquitetura, pois trás de forma didática, ilustrada e de fácil entendimento, diversos conceitos desde a fase de projeto, até a fase de execução de uma obra, passando inclusive por projetos complementares. Vale muito a pena a leitura!
REFERÊNCIA
LENGEN, Johan Van. Manual do Arquiteto Descalço. 2. ed. Porto Alegre – Rs: Bookman, 2020. 370 p.